quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Envelhecendo com gosto

Tenho experimentado uma nova fase, muito divertida, a velhice dos meus avós paternos.
Os 2 velhinhos de 83 anos que mudaram completamente minha visão de velhice.
Meu avô, que foi um ranzinza durante toda a juventude do meu pai e minhas tias resolveu virar um velhinho bem humorado! E surpreendentemente vaidoso. Anda se vestindo todo garotão de jeans e tênis da moda.
Minha avó, que sempre foi a mediadora, agora é a ranzinza e a mais sacaneada da casa.
Confesso que me divirto botando lenha na fogueira deles enquanto eles discutem, em um tom meio de brincadeira quase sério, sobre assuntos dos mais absurdos.
É uma chuva de pérolas, das mais brilhantes! Todos os dias, o café da manhã na casa deles é a minha melhor diversão.
Para exemplificar vou citar algumas das brilhantes:

Dona vovó assistia ao tal do Padre Robson na Rede Vida (fato que me irrita muito porque o padre com cabeça de playmobil rouba dinheiro de velhinhas), quando o padre relata um milagre de cura de câncer no reto. A fofa me solta em alto e bom som para o meu avô: Câncer no reto é no C#, né?

Velhinhos não se lembram onde guardaram a chave da porta, mas sabem os aniversários até de conhecidos que já morreram faz mais de 20 anos. Numa dessas, meu avô resolveu ligar para uma vizinha muito querida para dar os parabéns pelo dia, e ligou para uma homônima com quem não falava desde 1990! Deu os parabéns e ainda mandou um abraço pro marido dela, o Antônio. Muito bem, acontece que não era aniversário dela e o tal de Antônio era marido de uma outra conhecida. E no final, ele esqueceu de ligar para a vizinha que fazia aniversário!

Num domingo de tarde, na biblioteca do meu avô, conversávamos eu, ele e o meu amado. Quando vovô solta uma sonora bufa, faz cara de "que absurdo" e me diz: Já falei mil vezes para você parar de fazer isso na frente das pessoas, Talita!

Meu avô adora fazer firula, valorizar tudo que compra. Certa vez, ficou a manhã inteira dizendo que tinha comprado o MELHOR suco de uva do mundo. Que nunca mais iríamos querer Coca-cola no almoço e por aí foi.
Jarra de suco sobre a mesa, fui seca provar o MELHOR suco do mundo. Não passava de FANTA UVA!!!! Diluída em água. Ele trocou as bolas, comprou uma garrafinha de fanta uva pensando que era o tal suco maravilhoso. Irgh.

Mas o melhor mesmo é que eles não conseguem decidir os nomes dos nossos bichos de estimação. Temos o cãozinho Zé, o gato Aparício e a gata (mais linda e mal humorada do mundo) Frida.
O Zé já nem sabe mais quem ele é. Qualquer nome que a gente chama ele vem correndo. O Aparício é bibinho, Aparecido, Pariço e a Frida, coitada, já passou por Mimica, Cema, Minduca...
Pior mesmo sou eu que sou chamada pelos nomes de todas as minhas 3 tias antes de a minha avó acertar o meu nome!
Nome de empregada é inventado diáriamente. Teve uma Dona Lindalva que foi chamada de Dona frustreca pelas costas enquanto trabalhou lá. Queria entender onde frustreca é mais fácil de lembrar do que Lindalva!

Eu achava que envelhecer era triste. Que viver próximo ao fim da linha devia ser horrível. Agora, acho que envelhecer é divertido. Nunca se riu tanto na minha casa, nem eu, nem os velhinhos. Nos divertimos rindo uns dos outros. Talvez seja tão divertido porque eles são velhinhos bastante saudáveis. Não importa. O que interessa mesmo é que eu tô adorando meus novos avós muito velhos. Eles nunca foram tão divertidos, tão fofinhos e tão carinhosos.

Começo a gostar da idéia de envelhecer, de rir de mim mesma, de contar casos que parecem absurdos, de não ter mais que parecer sempre ótima, de poder dormir de tarde sem parecer preguiçosa!
Envelhecer é lindo, é ótimo e é uma dádiva. Para quem envelhece e para quem pode desfrutar da companhia dos velhos.

ps.: Idoso é coisa de viadinho, eu chamo de velho mesmo.