domingo, 3 de fevereiro de 2008

O trem, o personal chato e o buraco quente


Não resisti, a história do trem tá pedindo pra sair.

Lá vai:
Quando foi anunciado o trem para Santa cruz, todos os foliões desistentes do bloco debandaram rumo ao dito cujo. Foi tudo tão rápido que só consegui proferir as seguintes palavras : Não entro nesse trem lotado nem a pau!
Como por um sádico milagre, havia dois assentos imundos livres lá pelo quinto vagão. Não nos restou outra opção senão nos aproriarmos dos tais e começarmos nossa "bizarre trip".
Uma família , que mais tarde descobririamos habitante de um lugar chamado "buraco quente" se acomodou a nossa volta. Eram uma mulher de seus 50 anos, com uma educação, digamos, nada convencional, suas 3 filhas (incluindo
uma com uma pereba imeeeensa na boca) , os namorados de duas delas, uma mulher mais nova e uma aleatória que parecia conhecida da família,que gritava aos quatro ventos ter feito um escândalo com a trocadora de uma lotada e repetia sua fala: Ninguém sai da kombi enquanto você não corrigir o troco!!! E se gabava de ter mandado a trocadora voltar pra escola pra deixar de ser burra.
Equanto uma das filhas, desabada no assento ao lado do meu tentava dormir com a da pereba sentada ao seu colo, e a Roberta dizia a frase própria do dia: Algo me diz que essa viagem vai ser longa!
Uma das filhas usava umas asinhas de borboleta ridículas, que a fazia parecer uma mariposa atrofiada, e ao entrar no vagão causou um rebuliço entre um grupo de 3 rapazes aparentemente bêbados que ocupavam assentos mais a frente. Ao som de Borboletinha foi na cozinha fazer chocolate para a madrinha, descobrimos que essa viagem além de longa seria irritante.
Um dos rapazes, com muita empolgação, virou-se para uma senhora que estava sentada quietinha do seu lado e disse aos berros: Caralho!! Você foi minha professora!!
A senhora, aparentemente consternada deu um sorrisinho e balançou a cabeça afirmativamente.
Socos nas paredes à parte, os rapazer gritavam querer cerveja incessantemente até um vendedor , desses que se disfarçam de meros transeuntes para driblar a segurança da supervia, apareceu com suas latas de skol. Praticamente ao mesmo tempo, duas moças , segundo as palavras de Roberta "prejudicadas" (isso significa feias de doer) se sentaram entre os rapazes que prontamente iniciaram um diálogo bizarro.
Parecia a Oktoberfest, cerveja pra todo lado e uma das prejudicadas lançou uma cantada num dos rapazes acabando com uma lata nas mãos.
A pobre da professora, foi induzida por um dos rapazes a também aceitar uma lata.
Não poderia ficar pior, a baixaria comendo solta no vagão, eu e Roberta praticamente encolhidas nos assentos, quando ela me diz: não olha agora....
Um dos rapazes bêbados, me fazia sinais. Tentei ignorar, quando a membro da família "buraco quente" me cutuca e diz: olha, ele tá falando com você!
Não tive escolha, senão olhar na direção do rapaz e dar um sorriso amarelo ignorando o que ele tinha a dizer.
Eis que então, ele solta a pérola: Eu faço faculdade!!
Contive o riso, com muito esforço, enquanto a mui amiga da Roberta se rachava de rir escondendo o rosto.
Ele me olha com cara de quem-não-te-quer-agora-sou-eu e completa: Faço educação física e aponta para a UERJ atrás de mim.
Não contente, ele diz:As aparências enganam.
Não consegui segurar, gargalhei, fazendo o moço dar um sorriso amarelo.
A mamãe "buraco quente" se levanta, cutuca a filha que dormia do meu lado e diz: fulana, acorda, vem fazer paredinha que a mamãe quer "mijar".
Quase enfartei. Ainda não sei se ela falava sério ou era uma piada de péssimo gosto.
Era um freak show, uma peça que Deus me pregou por me entregar a festa da carne. Pensei em fazer uma oração, mas no carnaval, já percebi que Deus não se mete.
Músicas bizarras esgueladas pra lá, socos nas paredes pra cá e não poderia ficar pior.
Mas ficou. O moço universitário, muito persistente, me faz sinal pedindo o telefone. Respondi que não com a cabeça e com a cara de apavorada que era facilmente identificada.
Ele perguntou por que não, eu menti que era comprometida.
Ele afirmou com propriedade que eu não sabia mentir, respondi que não mesmo.
Minutos depois mais sinais pedindo o telefone, ao ler nos meus lábios um não conciso o moço completou: Não é o seu que eu quero é o dela! Apontando para a Roberta.
Em outra situação me sentiria péssima, mas nesse caso, senti uma certa felicidade.
Numa atitude amigavelmene cruel, cutuquei a amiga que fez cara de "que merda!".
Mais uma vez, não contive as gargalhadas e ri mais ainda quando o universitário, não contente com as suas outras pérolas disse: Você tá rindo porque não é com você.
Tivemos que concordar. O moço tinha senso de humor!
Para meu azar e sorte da Roberta, chegamos a estação onde ela ficaria. Fui abandonada á minha própria sorte no "feak train".
Acho que a essa altura, Deus tinha se compadecido do meu sofrimento e feito o universitário cair no sono,babando no vidro do trem. Mas não tinha feito a família ficar muda.
De certa forma, me sentia aliviada contando as estações restantes até a minha, eram só 4!
Mas, minha cota de milagres já estava esgotada, e a voz no auto-falante sentenciou: Senhores passageiros, esta composição ficara parada por alguns minutos devido ao cruzamento.
Cinquenta minutos depois, a composição seguia seu rumo com mais uma sentença: Senhores passageiros, devido a problemas técnicos no ramal essa composição circulará somente até a estação de Augusto Vasconcelos.
Tive vontade de morrer.
Não bastava o calor, a família esguelando-se, o personal trainer bêbado, eu teria que pegar um ônibus que me deixaria a 4 quadras da minha casa.
Tentei manter a linha, quando uma moça mulata e sua filhinha muito bonitinha caminham em minha direção para ocupar o assento vago pela Roberta.
Quando a criança, que sugava uma água mineral pelo canudinho se encontrava bem na minha frente, um solavanco do trem fez metade da garrafa esguichar bem no meu rosto.
Não faltava mais nada. Era claro que eu estava sendo punida por todos os pecados cometidos nessa e em outras tantas mais encarnações.
Meia hora mais tarde, eu desembarcava do ônibus( que foi a melhor parte do trajeto), e caminhava pra casa com cara de poucos amigos.
Tão suada e empoeirada que poderia jurar que nunca mais conseguiria tirar a inhaca desse dia do meu corpo.
Um bom banho depois, devidamente alimentada e insône, me encontro aqui.
O que sobrou de mim, escreve essas mal traçadas linhas para fazer meus leitores cativos se divertirem um pouco com o meu infortúnio.

Mas, tudo bem. Hoje é só o primeiro dia de carnaval....de onde veio essa história ainda vai sair muito mais! AlalaôÔôÔôÔô.......

Um comentário:

Unknown disse...

ta cada vez melhor menina, esse post foi FODA! bjs